Quem tem medo do claro?

Por Paula Bastos

Ilustração: Arthur de Pins

Vergonha, medo, timidez, insegurança e fragilidade. Esses são apenas alguns dos sentimentos que invadem o interior de muitas mulheres quando o sexo está prestes a acontecer. Uma situação que deveria ser prazerosa e benéfica muitas vezes acaba gerando desconforto e insatisfação

Ilustração: Fábio Rodrigues

Levantamento realizado pela evista Beleza em Curvas com 183 mulheres revelou que 74% fazem sexo com a luz acesa. No entanto, muitas afirmaram se sentirem incomodadas com isso. Outra enquete realizada pela revista e respondida por 130 homens apontou que 81% deles não reparam em detalhes no corpo da parceira. Dos homens que responderam à pesquisa, 37% disseram não ligar se ela tiver umas gordurinhas a mais; 11% não se importam se ela for gordinha e 18% não se preocupam com o padrão corporal.

Não se sentir bem com o próprio corpo e ter vergonha de se expor para o parceiro não são “privilégios” de quem está acima do peso. As mulheres, de uma forma geral, sofrem tanto com a ditadura da perfeição imposta pela sociedade que se sentem depreciadas quase que constantemente. Exemplo disso é a estudante Jovelina Carvalho, 25. Mesmo sendo magra e tendo um corpo atraente, a jovem diz que não consegue se sentir completamente à vontade no momento de intimidade por medo de ser julgada pelo parceiro.

Para ela, o problema é geralmente interno. “A mulher é quem mais se cobra. Na maior parte das vezes o homem nem reparou naquele defeito que tanto nos aborrece. É uma insegurança nossa, mas acabamos crendo que ele também está incomodado. Percebo que, no meu caso, é sempre um problema comigo mesma e não algo apontado por meu parceiro”, explica.

TESTE SEUS LIMITES

A constante cobrança de se encaixar dentro de um padrão ditado como “ideal” tem cooperado para a baixa autoestima de muitas brasileiras. De acordo com a psicóloga Claudia Oshiro, muitos dos medos que assolam a mente feminina são fruto de suas crenças, seus valores, cultura e história de vida.

Pequenas mudanças no dia-a-dia podem fazer com que a mulher adquira mais confiança em si mesma. De acordo com a psicóloga, se arrumar, cuidar da aparência, ter conversas francas com o parceiro e expor o que lhe aflige podem ser medidas que aos poucos surtirão efeito.

“Não adianta querer resolver o problema do dia para a noite. Tem vergonha da claridade? Comece com um pequeno feixe de luz e quando se sentir mais confortável, teste seus limites e se exponha mais”, explica.

Um ótimo exemplo de segurança e amor próprio é a consultora de comunicação e marketing digital Márcia Ceschini, 43. Casada há 13 anos, ela diz que se sente desejada e que o marido a faz sentir um “mulherão”. Mesmo estando acima do peso, ela não deixa que isso interfira em seu relacionamento.

“Somos muito cúmplices e nossa vida sexual só melhorou com os anos de casamento. Eu sei que ele me ama como sou e ele deixa bem claro que me deseja, então me sinto segura e amada”, justifica. E não pense que a claridade incomoda a consultora. “Nunca me incomodei em fazer sexo no claro ou em ficar nua na frente dele por causa da maneira como ele me olha. Ele conhece cada uma de minhas imperfeições, assim como conheço as dele. O amor e a intimidade superam tudo e na hora, nem pensamos nos defeitos”, aponta Márcia.

O QUE OS HOMENS PENSAM?

O jornalista Pedro Silva, 33, e o publicitário Danilo Bressan, 26, têm algo em comum: não ficam medindo os “defeitos” da parceira e nem descartam uma mulher devido a sua forma corporal.

Ambos relatam que a maior parte das mulheres com quem se relacionaram eram gordinhas ou estavam acima do peso e isso nunca fez com que eles as desejassem menos. “A mulher deveria entender que se um homem a levou para a cama é porque ele a deseja e se sente atraído por ela. O corpo sem roupa não vai revelar nada que nós já não saibamos. Diferentemente das mulheres, a maior parte dos homens não se preocupa se encontrará celulites, estrias ou gordurinhas a mais. Se fomos pra cama com você, é porque lhe queremos do jeito que você é”, justifica Danilo.

Engana-se quem pensa que os homens desejam apenas o tipo “gostosona” e há quem diga que as grandes mulheres são amantes incríveis. “Já saí com várias gordinhas e elas me parecem mais seguras, ou ao menos transmitem isso, e esse comportamento é interessante, pois gera desejo. Dessas mulheres, todas sabiam ser atraentes, interessantes, gostosas e eram boas de cama”, revela Pedro.

Para os dois, o medo da mulher se expor pode ser driblado com uma boa conversa para deixá-la à vontade. “Se percebo que ela está com vergonha, procuro dizer o quanto a desejo e a elogio. Conversar abertamente, desde que sejamos mais íntimos, também funciona”, diz Danilo. Atenção, carícias, cuidado e a aquela “pegada” seguida de um bom beijo são a receita usada por Pedro. “Se ela não quiser, não irei forçar a barra, pois entendo que cada um tem suas limitações. O importante é deixá-la à vontade”, ressalta.

Mas qual é a graça de fazer sexo com a luz acesa e por que tantos homens fazem esse pedido às mulheres? De acordo com Pedro, parte da graça está no corpo feminino, e como os homens são muito visuais, poder observar as expressões e reações da parceira são sempre muito estimulantes.

É importante lembrar que uma mudança de comportamento é importante não só para seu relacionamento, mas para sua felicidade e crescimento pessoal, afinal de contas, quem mais tem a ganhar com isso é você mesma. 

* Paula Bastos é jornalista, colaboradora da revista Beleza em Curvas, diretora e colunista do site grandesmulheres.com.br