Matéria extraída do site Extra |
Luto para que sejamos respeitadas com o DNA que temos. Não faço apologia à gordura, mas à autoestima |
Ela come arroz e feijão sem culpa, não se pesa há anos, nunca fez dieta na vida e ganha dinheiro — MUITO! — com seus quilos a mais. Em seu guarda-roupa, peças de Marc Jacobs, Chanel e Jean Paul Gaultier dividem espaço com marcas menos famosas, compradas em grandes magazines europeus. Também já esteve na capa da "Vogue" italiana, foi recheio da renomadíssima "Harper's Bazaar" e da americana "Glamour", ilustrando, com seu manequim 48, diversos editoriais de moda.
O que parece impossível é realidade para a carioca Flúvia Lacerda, de 31 anos, uma das modelos plus size mais famosas do mundo. Radicada em Nova York há mais de uma década, ela nem teve que se esforçar para realizar o sonho de muitas meninas de esquálidos 48 quilos.
— Estava num ônibus a caminho do trabalho quando fui abordada por uma mulher que queria saber quanto eu vestia. Achei estranhíssimo, mas ela logo se apresentou como editora de moda, me deu um cartão e disse que eu poderia ser uma modelo de tamanhos grandes. Nem sabia que isso existia. Modelo não tinha que ser pele e osso? — conta Flúvia, que está no Brasil para estrelar diversas campanhas.
Com 1,72m, peso desconhecido, 109cm de busto, 88cm de cintura e generosos 121cm de quadris, Flúvia não esbanja apenas sua beleza voluptuosa. É inteligente, articulada e sabe exatamente que ser chamada de "Gisele Bündchen Plus Size" é mais que lisonjeiro. É uma forma de abrir portas para outras mulheres.
— Ninguém no mundo é igual ao outro. O grande barato é a não padronização. Vivemos num país miscigenado, e que bom que é assim! Luto para que sejamos respeitadas com o DNA que temos. Não faço apologia à gordura, mas à autoestima. É possível ser feliz acima do manequim 42 — garante.
Para Flúvia, o Brasil ainda está atrasado neste assunto. Só agora — e ainda a passos muito lentos —, é que concursos, blogs e até revistas começam a prestar atenção no mundo GG:
— Quando venho ao Brasil, as pessoas me param na rua para saber de onde é minha roupa. Não é possível que a indústria continue ignorando que existem consumidoras vorazes atrás de sua própria identidade, que estão felizes com o seu corpo.
No futuro, ela própria pensa em montar uma grife com seu nome. Antes, porém, vai testar o que produzir lá fora. Enquanto esse tal de futuro não chega, no entanto, a linda carioca, criada no Norte do país, vai capitalizando em cima de sua imagem. A comparação com "La Bündchen" não fica por conta apenas da nacionalidade ou da profissão. Diz-se por aí que as cifras ganhas por Flúvia são tão generosas quanto as da colega magérrima. Para tê-la num editorial, é preciso desembolsar cerca de R$ 30 mil reais. Por dia.
— Posso dizer que ganho muito bem para fazer o que faço — esquiva-se.
Bem a ponto de já ter dado a ela a chance de comprar um espaçoso imóvel em Manhatan (EUA), com direito a terraço onde cultiva uma horta, uma casa no México para as férias em família e outra na Austrália, terra de seu marido.
Gordinha, sim; gulosa, nunca!
Flúvia sucumbe apenas aos carboidratos, mas de resto mantém uma alimentação quase natureba. Não come frituras ou comida industrializada e exagera nos alimentos integrais, frutas e verduras. Para completar, adotou a bicicleta como meio de transporte.
— Vivo sobre duas rodas. Busco minha filha na escola, vou ao supermercado, às locações de fotos, tudo isso de bicicleta. Ainda faço ioga e pilates — enumera ela, que contratou uma personal trainer: — Ela é da República Tcheca. Então, você faz ideia de como é linha dura, né? Preciso me manter firme, com o corpo durinho, tudo no lugar para trabalhar. Não faço para emagrecer, mas para ser saudável.
Dona de um senso estético apurado, ela privilegia os vestidos em seu closet e faz a linha "vista o que você gosta" sem radicalismos. Mas deixa algumas dicas para outras fofas, como ela:
— A mulher perdeu a feminilidade. Ficamos de calça jeans o tempo todo. É preciso redescobrir esta mulher feminina, perdida por aí. Equilíbrio vale para tudo na vida, inclusive na hora de se vestir. Adoro combinar uma peça estampada com uma básica, não uso nada colado ao corpo, tenho dezenas de cintos para criar uma silhueta e uso saltos para alongá-la — ensina.
Vaidosa, ela não sai de casa sem a santíssima trindade: rímel, blush e batom. Os cabelos, tão bonitos quanto os de Gisele, ganham hidratações semanais e passam longe do secador e da chapinha quando não necessário. A pele de porcelana é mantida com filtro solar. Sempre!
A autoestima elevada vem de casa. A mãe ensinou aos três filhos — apenas Flúvia não é magra — que eles poderiam ser quem quisessem, a levantarem a cabeça, e o primordial: se amarem.
— Nunca sofri preconceito porque nunca fiquei na mira dele. Sempre me amei como sou, me acho bonita, tive os namorados que quis. É claro que sempre tem uma tia para te dizer "Ah, você é tão bonita de rosto, conheço uma dieta ótima!". Dou de ombros — afirma ela, que já foi alvo de médicos brasileiros, que lhe ofereceram fórmulas milagrosas e operações radicais.
Famosa no mundo todo, principalmente após ser eleita a modelo plus size do ano nos EUA, Flúvia parece viver um conto de fadas. Alguns sonhos já foram realizados, mas um deles ainda aguarda na primeira fila:
— Queria conhecer a Xuxa! Nossa, quem nunca teve essa vontade? Nunca quis ser paquita, mas sempre quis chegar perto dela.
Carolina Marques
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